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NA CONTRAMÃO DA VIDA


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              Todos os dias aquela larga porta fica aberta nas 24 horas que formam o dia e por trás dela um pai, o provedor, mantém o seu comércio funcionando a espera de clientes para ganhar o seu pão e o sustento de sua família, mas seus clientes são especiais.
               Em contrapartida todos os dias você até pode passar diante de uma loja dessas e a ignora até precisar daquele serviço em um momento de tristeza quando alguém lhe falta, não sei se inconscientemente, mas nunca procuramos dar atenção àquela loja e a quem ali trabalha com sua labuta diária e o desejo de sobrevivência. É como uma negação da morte de nossa parte e do lado de lá são pessoas que a veem como a mais natural das circunstâncias, um ganha pão.  O rito de trabalhar com aquele corpo inerte de prepará-lo para a última viagem aos poucos vai sendo incorporado, feito quase que mecanicamente como um maquiador que prepara uma noiva. Enquanto a família chora, existe quem faça o trabalho mais duro com o respeito e a imparcialidade necessários para invadir a intimidade no momento em que se desnuda de todas as máscaras terrenas.
               É, enquanto há vida, há esperança... Mas e quando a esperança, o desejo de que não lhe falte trabalho está na morte? Peguei-me nestes devaneios, há quem na contra mão da vida espera a morte, não a sua, mas por uma contingência da natureza, a dos outros. Quem trabalha com a prestação de serviços póstumos se depara com este paradoxo, viver da morte.

Comentários

  1. Bah!!!É verdade mesmo!! E eles encaram com a mair naturalidade. Uns até naturalidade demais, pois já vi nessas horas tristes cada um!!
    Mas em geral, respeitadores da dor alheia,ainda que dependam dela...beijos,linda reflexão!chica

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  2. Oii Valéria, vou te contar uma curiosidade, conheço bem esse universo e as pessoas que trabalham nele, a família de um ex namorado era dona de uma rede de funerárias, eu achava sinistro aquilo rsrrs, Qdo tem acidentes as funerárias disputam os corpos,quem chega primeiro leva! É muito estranho, os mortos são como produtos, eles se acostumam e ficam muito frios, quem não se adapta logo sai fora! Gostei da sua lembrança! Bjoooooosss

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  3. Bom tema: vida/ morte/ trabalho/. Para sobrevivermos precisarmos ter fonte de renda e ter como foco a morte para manter a vida acaba sendo apenas mais um outro ofício. Na realidade temos muitos ofícios que não trabalham com a morte, mas indiretamente levam à morte, considero isso mais triste e nem sempre esses ojetivos são tão visíveis, não acha?
    bjs

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  4. Oi Val!!!

    Acho que algumas pessoas tem vocação para determinado trabalho e talvez por isso não tenham tanta dificuldade de lidar com determinadas situações que já para outros é incompreensível.
    Tenha um bom dia!!!
    Bjs :)

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  5. Não sei se conseguiria trabalhar nisso, Valéria..
    Mas tudo tem um costume, então pra quem trabalha, é comum lidar com corpos inertes.
    Ninguém presta atenção nesses profissionais a não ser qdo precisam deles.... a vida em prol da morte.

    Beijos e ótima quarta!

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  6. Oi, Valéria querida!
    Sempre existe quem lucre com a dor alheia, sem dúvidas! E, nesse caso específico, é mais uma profissão e mais um meio de sobrevivência.
    Minha mãe foi exumada por três vezes, acredite! Devido à radioterapia seu corpo se conservou por mais tempo. Bem, mas, numa das vezes fiquei a observar o jovem coveiro que desempenhava a sua função: bêbado até não poder, sorria enquanto cavava a terra. Estranho? Nao. Ele apenas encontrara um jeito de fazer o trabalho que iria levar-lhe o pão à mesa! Circunstãncias que, às vezes, a vida impõe.
    Bjssssssssssssss, quérida!

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  7. Valeria,um assunto para refletir!Na morte de uns,o sustento de outros!Grande cronica!Bjs,

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  8. Oi Valéria
    Tema mórbido, mas, enfim, alguém precisa fazer este serviço.
    Neste mundo há gente pra tudo, na morte não seira diferente.
    Beijo

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  9. Olá, querida Valéria
    O paradoxo da morte fica desmistificado ante a Bondade do Criador nosso que nos contempla com a Ressurreição...
    c

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    Respostas
    1. Vim ler de novo, querida, e vi que o comentário ficou cortado... desculpe-me, viu???
      Obrigada por sua carinhosa participação na Série Comemorativa do meu Blog...
      Deus te cubra de bênçãos e te faça feliz!!
      Bjs festivos de paz

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  10. Bom dia Valéria,
    Lindo teu Blog!
    reflexivo o teu texto aí.
    Gostei.
    Já seguindo teu blog por meu Blog> Fragmentos meus e agora por este aqui.
    Vem pra eles também
    No aguardo.
    Sou uma blogueira de plantão.
    Costumo seguir quem me segue.
    Um super dia pra ti.
    Grande beijo e fique com Deus!
    Eu Leilinha

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  11. Oi Valéria,
    bom tema para uma reflexão. Fiquei aqui a pensar com meus botões. A pessoa se acostuma com esta tarefa, ela se resigna, ela gosta mesmo do que faz, é mais uma forma de se sustentar?
    Não sei a(as) resposta(as) apesar de já ter tido que fazer esse serviço há alguns anos atrás e de não ter me importado de fazê-lo.
    Bom, vou ficar aqui matutando.
    Beijinhos.

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  12. Credo, Valéria! Não gosto de falar destas coisas. Já senti a Dona Morte cafungando no meu pescoço... pode parar!
    :)))
    xoxo

    Gosto disto!

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  13. Olá Valéria,

    Fortes devaneios.
    Até meu pai falecer, eu nunca tinha entrado em uma funerária.
    Mudava até de calçada para não passar na frente de uma. Olhar lá para dentro, nem pensar.
    Mas tudo muda. Hoje encaro com naturalidade e sei que as pessoas que ali trabalham o fazem como se estivessem realizando qualquer outro tipo de trabalho.
    Duro é testemunhar a disputa das funerárias pelos corpos. Mas, fazer o que? Todos precisam lutar pelo seu sustento e isso não implica em desrespeito para com os mortos. Afinal, são meros corpos, que logo se transformarão em pó. A alma
    já não está mais ali.

    Beijo.

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  14. Ótima reflexão Val.
    A morte é nossa sina, porém muitos querem fugir dela, não gostam nem de falar em morte, em funerária, em cadáveres. Eu particularmente nunca tive problemas com isso, até mesmo após a morte do meu avô e o contato com cadáveres nas aulas de anatomia do meu curso (faço Fisioterapia).
    Gostei muito. Bastante profundo!

    Beijos,
    Marcilane Santos - Simples Inspirações.

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  15. A pior morte não é a do corpo física, mas é a espiritual...
    Gostei do seu texto Valéria.
    Bem vinda ao meu blog!!

    Bjos!

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  16. Não é um trabalho qualquer, precisa ser feito com respeito. Não costumamos pensar nele. Já vi, em filmes, formas muito carinhosas de sua realização, um verdadeiro ato de amor, para com a família que sofre. Bjs.

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  17. Valéria

    Encantador esta crônica apesar dos pesares.
    E é a preparação para enviar desta para outra vida. Gosto de textos assim, com pouca escrita mas feito com muita mestria.
    Um lindo dia para você.

    Beijos.

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