Com a reserva confirmada partimos para o bairro de Vitacura para nosso jantar. Hoje o bairro de Vitacura vem se estabelecendo como o novo pólo gastronômico de Santiago. Ali vem se instalando grandes nomes da gastronomia da cidade, e o que iríamos não ficava atrás, o Boragó, um excelente restaurante! Boragó é o nome de uma florzinha lilás muito delicada e resistente do Chile, desde a escolha do nome já começa a valoração da terra, do que ela produz.
Um grande salão com decoração intimista, entre um jardim/horta de ervas frescas e a cozinha que fica a vista do cliente que pode ver a preparação dos pratos, nos é indicado por um solícito e educado garçom que nos acompanha a mesa, tudo muito silencioso... Como conhecíamos de antemão a proposta do restaurante escolhemos o menu de degustação endêmica com 8 pratos, existe também o de 13, e ele nos explicou com detalhes a divisão de uma entrada, 4 pratos salgados e 3 sobremesas e o princípio que rege aquela cozinha, a cozinha endêmica! O chef desse restaurante, o Rodolfo Guzman é um bioquímico e acho que baseado nos seus conhecimentos científicos ele buscou transformar como um alquimista o que tem na sua horta em pratos inspirados poeticamente na dieta dos povos originários daquele país como numa licença poética gastronômica. (risos) Uma cozinha moderna aliada a um profundo respeito às origens, as suas raízes.
A cozinha endêmica é uma cozinha de vanguarda em que se utiliza de uma maneira ousada, surpreendente ervas raras e flores nos pratos respeitando o ciclo vital, as estações, como ele bem diz... “é preciso entender a terra e comer aquilo que a terra é capaz de produzir”. Ele traz frutas da Patagônia, peixes da Ilha de Páscoa e ervas plantadas em sua horta vindas de lugares remotos e a união destes ingredientes são pratos criativos e selvagens com sabores, cheiros e texturas do Chile. Assim nos propomos a vivenciar essa experiência, lúdica para nossos sentidos acostumados ao comum, ao trivial... Os novos sabores nos fizeram reconsiderar o ato de comer, nos surpreenderam, nos provocaram novas sensações.
Como já disse conhecíamos por informações, mas como imagem não tem sabor nem aroma desde a decoração da mesa com rochas vulcânicas, a cada prato e vinho harmonizando para o marido e chá para mim (que andava as voltas com a labirintite) todos os nossos sentidos eram provocados divertidamente.
E começa a degustação, ou melhor dizendo, a viagem pelos sabores... Se a apresentação dos pratos surpreendeu, a profusão de sabores nos deixaram em estado de graça...
O couvert nos foi oferecido, um pão delicioso e um vasinho que parecia ter apenas uma terrinha, nada mais era do que terra comestível que cobria uma deliciosa pasta feita de pinhões e coentro. Só depois percebemos essa delícia ao tentar sem grande sucesso passar a terra no pão.
De repente surge um bonsai carregado de pedaços de lagostas, recheados de pasta de caule de alcachofra, presos em um arame e pendurados em seus galhos, era a entrada. Num primeiro momento ficamos ali parados, observando intrigados e começamos a brincadeira de descobrir sabores. Eram deliciosos, suaves...
Em seguida, um cachepô de zinco como um balde, que era como um fogareiro, pois havia uma grelhinha onde estava a comida e lá embaixo existiam raminhos de Tepú e canela, foi colocado em uma mesa auxiliar e de um potente maçarico sai uma tocha que acende o foguinho e assa rapidamente os ingredientes, aspargos, cogumelos de Curacautin e batatas assadas ao fogo. Come-se ali mesmo no cachepô, com aquele sabor esfumaçado, rústico de comida suavemente assada, deliciosa. Para harmonizar, um vinho Anakena, Single Vinyard Pinot Noir 2008, Valle de Rapel e para mim um chá Oolong da China.
Em seguida Lagostins de Coquimbo, são servidos acompanhado de uma espécie de salada com caules e flores primaveris e ervas selvagem. Aqui o branco Leyga Garuma Sauvignon Blanc, reserva especial, 2010, Valle de Leyda se harmoniza ao prato, assim como o chá verde orgânico com pétalas de rosa, folhas de hortelã e especiarias.
O peixe, o Kra kra cozido sobre pedra vulcânica e mergulhado em emulsão de ervas selvagens ácidas, era um Mero mergulhado em uma emulsão de clorofila de manjericão delicioso, refrescante, macio, harmonizado com um Veramonte, Chardonnay, reserva 2009, Vale de Casablanca e um chá de flores grego.
A carne nos surpreendeu. Pedaços de carne de vaca defumada em madeira de Tepú, cozidas por 40 horas coberto por uma camada de cogumelos negros e musgo de ervas como se fosse terra que derretia na boca ao ser mastigada de tão suculenta e deliciosa. Para comer, as mãos, ao lado guardanapos especiais embebidos em suave fragrância morna. Para beber, o vinho Errazuriz, Max Reserva Carmenere 2008, Valle do Aconcagua, meu chazinho, o ahumado Lapsang Souchong, também chinês.
E passamos para os doces. As sobremesas eram três, cada uma mais refrescante do que a outra...
A primeira sobremesa já agradou pela aparência, linda, lilás, era um Sorvete de flores de violeta com torrone e crocante de Maqui, tinha uma mistura de texturas, crocante, fofinho e o gelado do sorvete, delicioooosa! A harmonização ficou por conta da Sidra Misla Rosário, Sagrada Família, Curicó, e o meu chá, uma infusão de flor de crisântemo, da China.
Em seguida a Coulant de Mel de ulmo da patagônia e um pedaço de favo de mel cozido em frio. Você imagine um córrego feito de um vidro fino, aqui comestível e passando sobre ele um saboroso riacho, uma mistura de chocolate, morangos selvagens, caramelo e ervas doces, era a sobremesa, uma mistura de sabores simples e inéditos na apresentação. Aqui o Portal Del Alto, Syrah tardio 2004 do Valle do Maipo e o chá de pétalas de rosas orgânicas completaram o sabor.
Para completar o show, a grande estrela, a sobremesa Frio Glacial Lácteo, leite com menta em várias texturas, frozen, sorvete e uma espécie de suspiro com nitrogênio líquido que ao colocar na boca saia fumaça pela boca e nariz, inusitado, surpreendente, delicioso, divertido, não parávamos de rir, era o sabor refrescante e a sensação causada pela fumaça. Aqui a harmonização ficou para um chá verde gunpowder (China) e menta nana (Egito) para nós dois. Um final bem digestivo! Uma experiência inesquecível!
Foto do google |
Como pedi ao garçom a descrição do menu, este veio em espanhol, não consegui traduzir exatamente todas as palavras! As fotos também não ficaram lá essas coisas, mas deu para eternizar o momento...risos
O restaurante sugere reserva e eles retornam para confirmar a presença.
Oi Val!!!
ResponderExcluirMuito surpreendente este restaurante, bem diferente, marcante e excêntrico né? Uma viagem gastronômica repleto de cultura, muito bacana mesmo.
Tenha um ótimo fim de semana!!!
Beijos
Bia
inesquecível para vc e inusitada para mim. realmente inusitada. bom final de semana
ResponderExcluirOi Valéria,
ResponderExcluirEu tenho uma certa dificuldade em viagens, pois sou vegetariana. Em alguns lugares me vi obrigada a ficar só com as sobremesas...
Bjkas e um ótimo final de semana para vc.
www.gosto-disto.com
Oi Garotas!!!!
ResponderExcluirBia!
A proposta deste restaurante é muito diferente e saudável. Eu adorei a experiência e repetiria! Ele está sendo muito procurado, sabia?
Welze!
Não vou esquecer nunca das nossas caras de surpresa diante dos pratos e de toda performance na apresentação. Teve até uma explosão com nitrogênio na mesa, subiu aquele fumacê, esqueci de contar!
Betty!
Também apreciamos um vegetariano e imagino mesmo a dificuldade para encontra-los. Aqui mesmo em nossa cidade que eu saiba só existem dois.
Bjos e bom final de semana!
Valéria, sua viagem tá uma delícia de acompanhar, mas nada é tão gostoso quanto um post de comida. Esse especialmente, com todos essas comidas servidas de forma tão diferente... fiquei morrendo de fome...
ResponderExcluirbjo
Oi Mr.Lemos!
ResponderExcluirObrigada!
Foi uma experiência deliciosa e até um tanto surreal, mas a proposta do chef é essa mesmo, de surpreender...
Seja bem vindo ao blog!
acho admirável estes pratos bonitos e com sabores diferentes, uma riqueza de cores aromas e sabores que encanta e certamente torna a alimentação mais do que saciar a fome, mas uma experiência deliciosa...
ResponderExcluirBeijos
Adoro quando passo por aqui e viajo na sua viagem... Esse restaurante é bem excêntrico para o meu paladar, mas muito interessante.
ResponderExcluirXero!
Oi!!!
ResponderExcluirJeanne!
Foi justamente isto uma mudança de conceitos no ato de comer, se divertir descobrindo sabores até então desconhecidos.Muito bom!
Pipa!
Não, não é excêntrico, é inusitado, surpreende todos os nossos sentidos. Não é para comer sempre, é mais uma experiência. Vale a pena!
Beijos e boa semana!
OI Valéria,
ResponderExcluirPassei para desejar a vc uma semana maravilhosa.
Bjs
www.gosto-disto.com
geeeente, que pratinhos pequenos!
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirBetty!
Você como sempre muito gentil! Para vc também!
Cintia!
Sabe aquela estória de grão em grão a galinha enche o papo? Pois é, no final estamos cheios, de prazer também!
Beijos!
Uau! Que experiência! Já tinha ouvido falar de tudo, menos de cozinha endêmica. Adorei. Uma viagem completa, com poesia, lugares e gastronomia. Posso indicar no Facebook? Gostaria de apresentar aos meu amigos. Aguardo.
ResponderExcluirBeijos
Oi Jorge!
ResponderExcluirObrigada!
Fechei a viagem com chave de ouro, não?
Pode indicar, é muiiito bom! Nunca vou esquecer a experiência...
Oi Dany!
ResponderExcluirQue bom que gostou! Seja bem vinda ao meu blog e volte sempre!
Olá, adorei este post sobre Santiago, moramos cinco anos em Las Condes e adoro tudo aquilo, não sou de frutos do mar, mas acabei por conhecer alguns restaurantes maravilhosos..Final do ano vamos para lá, os padrinhos do meu filho moram lá...Ótima dica...Beijosssss
ResponderExcluirOi Bel!
ResponderExcluirQue sortuda você! Morou em santiago! Adoramos Santiago e meu marido ficou desejando morar lá oa se aposentar. rsrs
Esse restaurante é o máximo, não digo para comer sempre, mas para experimentar é sensacional! Bjos
Olá Valeria! Alguma coincidências: também moro em Natal e estive no Boragó agora em março de 2011.
ResponderExcluirO jantar nesse restaurante realmente foi uma experiência única! Fui escrever um post sobre isso e ao pesquisei por outras pessoas que também foram lá encontrei seu blog. Provei exatamente o mesmo menu que você, que segundo me falaram é o menu verão!
Abraço
Petterson
Oi Petterson!
ResponderExcluirQue bela coincidência!
O Boragó é mesmo "a experiência gastronomica", rica em sabores, uma viagem dos sentidos...Abraço
Que experiencia maravilhosa!
ResponderExcluirJá tinha lido a respeito desse restaurante no destemperados, amei a sua postagem sobre o Boragó.
Beijos.